Frango guisado com esparguete....

 A minha avó Maria...

A mulher mais bonita que já vi na vida! 

Era alentejana. 

 

A mãe morreu quando a deu à luz. 

Viveu toda a sua vida de solteira com o seu pai e o seu irmão.

O meu bisavô trabalhava no campo. 

A minha avó começou a trabalhar com ele desde criança. 

Trabalhavam para gente rica e abastada.

O meu avô, filho do dono das terras, apaixonou-se perdidamente por ela.

Casaram.

A minha avó Maria lá se adaptou à nova realidade mas nunca abriu mão de ser quem era.

Moravam em Lisboa mas o Alentejo estava-lhe no sangue e pedia ao meu avô que a levasse para lá.

O meu avô fazia-lhe a vontade e acabou por negligenciar os negócios por causa disso.

Na altura as comunicações eram más ou inexistentes. Era preciso estar em Lisboa.

 

A minha avó teve 5 filhos. Todos rapazes. O mais novo é o meu pai. Mal os meus tios e o meu pai puderam o meu avô passou-lhes os negócios para as mãos para poder estar no Alentejo com a sua Maria.

 

A minha avó tinha os olhos mais bonitos que já vi.

Verdes azulados ou azuis esverdeados.

Eram magníficos.

Nenhum dos filhos herdou os olhos dela.

A atenção começou a recair nos netos. Foram nascendo e nada. Alguns nasceram com olhos azuis mas depressa mudaram para castanho.

O meu avô era um homem muito moreno e todos os filhos são assim, morenaços e os netos também!

 

Eu sou a última neta. Quando a minha mãe ficou grávida, a minha avó Maria disse a toda a gente: vocês vão ver que é desta! E foi. Eu tenho os olhos iguais à minha avó Maria. Iguais, mas só na cor. Falta-me o resto...falta-me tudo....o resto.

 

Passávamos, no Alentejo, eu, o meu irmão (a minha irmã era mais velha era muito coquete) e um rebanho de primos rapazes, as intermináveis férias de verão.

Que delicia eram essas férias!

 

Lembro-me das galinhas, o meu irmão mais velho, que já andava na escola, contá-las e dizer são 17. Voltar no dia seguinte e ele dizer com ar confuso, só estão 16. 

 

-Ó vooooooó Maria onde está a galinha que falta.

- Foi para o céu, Joana, foi para o céu.

 

E ficámos nós miúdos, primos, amigos a olhar para o céu durante horas. A minha avó Maria estranhou a calmaria...

 - O que é que estão a fazer?

- Estamos a ver se vemos a galinha...

 

Frango guisado com esparguete.

É a recordação mais forte que tenho da minha avó Maria.

Isso e os olhos, os meus olhos!

O seu sentido de humor que revejo no meu pai, nos meus tios e às vezes no meu irmão.

A bondade.

A descontração.

A simplicidade.

O carácter.

 

30 de Agosto é dia da avó Maria. Foi o dia em que nasceu. Foi o dia em que morreu.

Tinha  13 anos e nunca superei.

Pouco tempo mais tarde, morreu o meu avô. A vida para ele deixou de fazer sentido.

 

Hoje aqui em casa come-se frango guisado com esparguete. 

 

Obrigada! Avó!

 

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