E por falar em desequilíbrios....

 Se há gente com medo de baratas, osgas, cobras e outras bichezas eu tenho medo de ir ao dentista.

Muito, muito medo.

Nunca tive uma dor de dentes na vida.

Sempre fui muito bem tratada por todos os dentistas onde fui.

É um medo irracional. Inexplicável. E parvo.

 

Já lá vão dois anos que comecei a planear a minha ida ao dentista.

Leram bem dois anos.

É uma fobia tão grande que preciso de planear tudo com antecedência.

 

Há um ano atrás, a massa de um dente caiu.

E eu achei...tem de ser agora.

Agora, agora não que não tenho tempo.

....vou em Dezembro. Tenho uns dias de férias, é mais fácil.

Natal? Não dá jeito. A família é grande e tenho de os visitar. Vou na Páscoa. É mais tranquilo.

 

Em Junho, comecei a sentir umas areias na boca. Era o dente a partir aos bocadinhos.

Tenho mesmo de ir ao dentista.

Pensei num plano B.

Precisava de ajuda especializada.

Fui à farmácia.

- Sr Fonseca, preciso de ir ao dentista, tem por aí alguma coisa que me ajude?

- Tens dores? Já experimentaste um paracetamol. Brufen?

- PRECISO DE CALMANTES!!

O Sr. Fonseca desmancha-se a rir. Vai às gavetas e lá trás uma caixinha.

- Experimenta estes.

- São fortes?? Preciso de alguma coisa que me tire temporariamente as emoções.

- Ah! Ah!

E depois fez-me aquele discurso da praxe que toda a gente faz. Não custa nada. Vais ver que passa num instante...e não sei mais o quê... desligo a partir da segunda frase.

 

Levei a caixa dos calmantes para casa.

Olho para eles.

Branquinhos.

Discretos.

Pensei, tenho de ensaiar primeiro.

Se isto acalma mas depois tenho uma crise de falta de ar?

Ou vómitos?

Ou outro qualquer desarranjo?

 

Tomo um.

E o que senti?? Nada.

Leio o folheto. Podemos tomar até 6. Senti-me endrominada.

Que raio de calmantes potentes são estes que se tomarmos uma overdose ainda ficamos finos? Precisava de algo que me adormecesse só com o cheiro.

No dia seguinte tomei 3 antes de dormir. Ás duas da manhã ainda, Joana, andava fresca e fofa pela casa fora.

 

Há duas semanas atrás, o dente partiu mesmo. Fiquei com um buraco do tamanho da Austrália.

Pensei:

Se calhar tem de ser.

Marquei uma consulta, foi ontem.

Na noite anterior:

- que se lixe, tomo a dose máxima. 6 comprimidos.

 

Dormi bem, como sempre durmo.

De manhã. Mais três compimidos.

 

O dentista é em Oeiras. Perto da casa da minha tia Luísa.

Fui de comboio porque estava tão nervosa que tive medo de pegar no carro.

Estava na estação de Carcavelos. Tinha vontade de fazer xixi. E de chorar.

Saí na estação de Santo Amaro.

Fui subindo a rua. A rua dos correios.

Tinha muita vontade de fazer xixi. Mesmo muita vontade. Nervos!!

 

Os calmantes estavam a funcionar em pleno.

 

Aliás, sentia medo de ir ao dentista; ódio à minha bexiga e rins; pena de mim própria; uma raiva brutal do SR. Fonseca da farmácia e feliz...porque o Sporting tinha ganho na terça-feira...como se pode ver...os calmantes tinham cortado MESMO todas as emoções!!

 

Toco em casa da minha tia Luísa às 8h30 da manhã. Ninguém, lá de casa, estranhou que Joana entre casa de banho adentro áquela hora da manhã....

O que é estranho nos outros, é aceite em mim....a minha família já leva 35 anos e meio disto......da minha pessoa....

 

Quando faltavam 10 minutos para a consulta lá fui.

Se soubesse que ía ser decapitada iria mais animada.

Quando lá cheguei dei logo de caras com o Dr. José.

É o meu dentista de sempre.

Já fui a outros mas volto sempre aqui.

Não tem aqueles aparelhos ultra modernos e uma cadeira em que ficamos virados de pernas para o ar mas compensa em perícia e rapidez.

Cada tratamento demora uns 5 a 10 minutos.

E no tratamento faz imensas pausas.

E por isso uma pessoa vai sobrevivendo.

Não faço fitas. Porto-me bem.

Mas quem olha para mim percebe tudo.

 

Saí de lá com o dente arranjado.

A minha boca tinha tanto desinfectante que, com um ÚNICO bafo, dava para extinguir todos os elefantes à face da terra.

Dei graças a Deus por não ter o carro comigo. E se fosse parada pela polícia? Deviam achar que eu tinha assaltado uma destilaria de WC Pato...

 

Pergunta-me o Dr. José:

- Tens dores?

- Não.

- Não deves comer durante duas a três horas. Com o tratamento que fiz podes começar a ter dor daqui a pouco. Se isso acontecer liga para cá ou aparece.

 

E então Joana, a verdadeira emergiu.

A deslumbrada.

A controladora.

E a sem noção.

- Não vou ter dor. Daqui a 3 horas embarco para Barcelona. Tenho muito trabalho para despachar lá. Sábado às 18h15 vou estar de rabo sentado em Guimarães ou não me chamo Joana!!

- Ah! pronto! Sendo assim fico mais descansado.

 

Ri-se o Dr. José, ri-se a assistente. E ri-me eu porque caí em mim .....ah! E os nervos?? Passaram...

 

Volto lá para a semana...e vai começar tudo de novo..

Pelo andar da carruagem...vou ter visitas ao dentista.....até à extinção dos elefantes...

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