Manel...
Conheci o Manel na faculdade.
Depois de no liceu ter tido dois grandes amigos, o Gui e o Marc.
Este último o meu primeiro namorado.
O Manel foi o meu amigo da faculdade.
O melhor amigo.
Aquele que contamos tudo e mais alguma coisa. O amigo que nos faz rir até doer a barriga. Era e é uma amizade sem qualquer tipo de segundas intenções.
Eu tinha namorado.
Ele tinha namorada.
O meu namoro acabou aos 26 anos.
O dele continua até hoje. Tem 3 filhas. E casaram este Verão. Foi um dos casamentos mais bonitos que já assisti.
O Manel era e é advogado.
Como não gostou do curso embora exercesse inscreveu-se em Gestão.
E foi aí que o conheci.
Nós os dois eramos diferentes do resto dos colegas. Ele era mais velho e eu embora tivesse a mesma idade dos outros já trabalhava. O Manel tinha contas para pagar ao fim do mês. Eu também porque já morava sózinha.
Durante o curso tive quatro cadeiras de direito que quase me mataram. Detestei. Deprimente, deprimente!
Ele como era advogado ajudou-me a estudar e passar com a nota minima.
Tive duas ou três cadeiras de informática.
E o Manel descobriu a sua vocação.
Adorava programar, inventar e inovar. Eu não percebia NADA!
A minha estratégia passava por ter a melhor nota que conseguisse na parte teórica para na prática que era programação propriamente dita...poder esbardalhar-me com estilo....
Comecei a fazer os trabalhos práticos com o Manel.
Ele programava e eu fazia o relatório...lindo e espectacular. O pior era a oral. A defesa do trabalho. E aí o Manel, pacientemente, pegava em mim e explicava-me como e porquê tinha feito aquilo de uma maneira e não da outra. Mais. O Manel dizia-me:
- Se te perguntarem...x, respondes y. Atenção se te perguntarem Z, não podes responder y tens de responder x.
Fazia que sim com a cabeça. Num interesse aparente mas sem perceber nada...de nada.
No quarto ano tivemos que fazer um trabalho de simulação. A cadeira tinha uma parte teórica dada por um Professor Doutor competente, nem simpático nem antipático. A parte prática, em que tinhamos o trabalho, era dada por um professor mais novo, assistente do Professor Doutor.
Já não me lembro muito bem, como era o trabalho mas sei que tinha uns camiões carregados de cereais.
Apareciam os camiões em movimento.
Tinhamos de depositar os cereais nuns silos.
De lado, tinha um contador, inicialmente a zeros, cada vez que os camiões depositavam os cereais nos silos, fazia aumentar o contador.
Ninguém da minha turma conseguiu terminar tal coisa.
À excepção do Manel.
Era ver os camiões pretos a circular alegremente e a largar os cereais e o contador a aumentar.
Tal como das outras vezes fiz o relatório.
Espectacular. Uma apresentação, top!
No dia antes da apresentação oral o Manel envia-me por email o trabalho. Olho para o trabalho, revejo o relatório.
Olho para o contador e tenho a brilhante ideia de mudar a cor.
Está a preto.
E se mudar de cor quando está a zeros?
Espectacular ideia, grande cabeça, Joana!!
Pensei em encarnado. Desisti.
E se fosse rosa? Boa! Vou ao código, escrito pelo Manel e mudo "black" para "pink".
Envio uma mensagem ao Manel a dizer o que tinha feito. Boa ideia, diz o Manel.
Dia da apresentação.
Anfiteatro. Tinha projector fixo.
Alguns colegas desistiram do trabalho. Outros aparecem com esperança de conseguir passar com a nota da parte teórica.
Começam as apresentações.
Lá aparecem a preto os camiões...
Eu e o Manel somos chamados.
Colocamos o nosso trabalho.
O Manel clica no iniciar.
E qual não é o espanto de todo o auditório e dos dois professores quando começam a aparecer camiões rosa choque...
Eu fico em choque como o rosa.
O Manel olha para a tela sem acreditar no que vê.
O professor assistente olha incrédulo e com horror. Foi seguindo o nosso trabalho nas aulas e os camiões estiveram sempre a preto.
E o Professor Doutor diz:
-Parece uma parada gay...
Eu desato a rir. O Manel desata a rir. O auditório inteiro ri....
Nunca me ri tanto em toda a minha vida. Saímos dali passados à cadeira. Eu tinha tido 18 na teórica fiquei com 14. O Manel ficou com 19. Muito merecido.
O Manel acabou a licenciatura nesse dia. Fomos comemorar. Acabámos a noite às 21h em Santos a comer caldo-verde. Deixou-me no aeroporto porque era assistente de bordo e tinha um voo para Nova York pela noite dentro.
Sempre que estamos juntos falamos dos camiões rosa choque. E como fizemos um anfiteatro vir abaixo...
Dizemos sempre que o Manel acabou a licenciatura na parada gay 2002!
O meu querido amigo faz hoje anos! Parabéns!
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