uma história de Natal...

Tinha 8 anos.
E o meu pai tinha tirado a semana do Natal para irmos todos ao Alentejo.
Mal chegámos a casa da minha avó pus os olhos num gato.
A minha avó lá explicou que tinha aparecido um gato lá em casa.
Os meus avós tinham um cão. Que o meu avô adorava. E o gato chateava demasiado o cão.
O meu avô já tinha dito à minha avó para não alimentar o gato.
Mas a minha avó lá ia dando às escondidas comida ao gato.
O gato era pouco simpático. Medroso. E arisco.
O aspeto também não ajudava. Era o gato mais feio que alguma vez já tinha visto.
Esqueçam os gatos amorosos. Este parecia o anti-cristo.
- Joana não toques no gato que te arranha. E doenças. E pulgas.
Avisou-me a minha mãe.

É claro que não dei ouvidos à minha mãe.
E passadas duas horas de lá ter chegado, estava irreconhecível.
Tal era o nível de arranhanço.

Não me dei por vencida.
Claro, que não.
Comecei a roubar leite aos poucos. Via quando estava livre a cozinha e cá vai disto...
Depois, meus amigos. Os horizontes abriram-se para mim...quando percebi que a minha avó guardava na despensa, leite para alimentar todos os gatos de Portugal continental...
Entrar pela cozinha e seguir para a despensa era perigoso. Podia ser apanhada.
E convenhamos...era pouco elaborado para mim....
Um dia entrei na despensa e deixei a janela aberta. Uma fresta. Não se via. Não se notava.
Foi fácil. Comecei a entrar na despensa pela janela.
Ao fim de dois dias, eu Joana, não andava pelo quintal da minha avó.
Desfilava com uns 5 ou 6 súbditos atrás de mim.
Para além do gato da minha avó, tinham aparecido mais, não sei bem de onde...

Nunca fui apanhada. Embora a minha avó começasse a achar que nós os 5, bebíamos demasiado leite.
Também estranharam lá por casa o facto dos gatos de um momento para o outro me adorarem...

Algo não batia certo. Nem em casa da minha avó. Nem nas redondezas.
Um dia, fui à mercearia com a minha avó, e uma vizinha queixava-se:
- O meu tareco desapareceu, há 5 dias que não o vejo....
- Também o meu. Já o tenho há 10 anos e é a primeira vez que desaparece...

Lembro-me de ver a minha avó. De repente com os olhos postos em mim. E a juntar as peças.
E percebeu.
Claro que percebeu.
A minha avó chegou a casa e arranjou um canto na cozinha para o gato.
O gato aos poucos foi-se adaptando.
Quando voltei lá pelo Carnaval o gato já passava os serões na sala com os meus avós.
A minha avó morreu 5 anos depois. O meu avô morreu logo a seguir. E o gato foi adotado pela minha tia Luz.
Jacaré, o gato. Morreu 5 semanas depois da minha avó ter morrido.

A minha avó nunca me denunciou pelo roubo.
Ficou um segredo só nosso. Até hoje..


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