Noé! É um triste!
Quem tem crianças sabe que às vezes. E ás vezes quer dizer todos os dias.
Perguntam coisas. Falam de assuntos, situações, pessoas, lendas, seres mitológicos, jogadores de ping pong, janelas abertas, alterações climáticas e células neuronais.
Aqui por casa. Um dia. Alguém perguntou:
- O que é a arca de Noé?
Eu tinha uma ideia da história, mas sem grandes certezas. Porque há 40 anos que não ouvia falar em Noé. E arrisquei.
Um risco tremendo.
Porque as criancinhas. Perguntam.
- Quem é o melhor jogador de futebol do mundo?
- Cristiano Ronaldo. Nascido na Madeira, criado no Sporting.
E eles. Vão confirmar com o pai, avó, avô e mais 456 desconhecidos que encontram na rua. Só para confirmar.
Adiante.
Noé!
Perguntou-me a Mariana. Mas um segundo e meio depois, estavam os 4 curiosos a olhar para mim. Á espera que eu dissesse uma barbaridade qualquer.
Eu. Firme e decidida.
- É uma lenda que diz que ia haver um dilúvio....
- O que é um dilúvio?
. É uma espécie de cheia gigante. Quando chove muito as terras ficam alagadas. Ia chover muito, muito, muito. Como nunca tinha chovido. E Deus escolheu Noé para fazer um barco gigante e armazenar lá dentro um casal de todos os animais à face da terra. Porque quando o mundo voltasse ao normal e a inundação se fosse embora, Noé soltaria os animais e podiam ter novos animais e o mundo continuar como sempre esteve.
- É por isso que o Vasco e a Gabi estão connosco? Disse a Luísa.
- É uma espécie de lenda. Não há evidências cientificas de ser uma história verdadeira.
Ficámos por aqui. O público ficou satisfeito com a explicação. E a casa voltou a ter harmonia.
Mas.
Noé voltou à baila.
Tudo começou à hora de jantar.
Se pensar bem, muitas coisas por aqui começam à hora de jantar.
A Mariana olhou para mim e disse-me:
- A minha professora quer falar contigo.
O Pedro até ganhou novas cores tal foi o espanto!
Por aqui, os miúdos têm uma espécie de registo digital onde os professores anotam algumas coisas: avaliações, comportamentos, etc. E têm um livrinho, onde recebem muitas vezes pequenos incentivos ou avisos. Uns autocolantes com carinhas felizes quando fizeram alguma coisa interessante. Autocolantes com carinhas tristes quando são pequenos ou grandes demónios.
A Mariana. Sempre com carinhas felizes. É um doce. Sossegada. Focada. Empenhada.
Um mini Pedro.
Por isso a nossa cara de espanto. Quando nos disse.
- A minha professora quer falar contigo.
Todos os dias vou ver os diários digitais dos 4. E o livrinho das carinhas. E nada de nada.
- Porque é que a tua professor me quer ver?
- A professora estava a contar a história de um caracol e eu estava a falar com a Paola.
E deixei-a continuar.
- A Paola estava-me a explicar que tinha ido com a mãe ao supermercado e a dizer-me o que a mãe tinha comprado.
- Certo! E depois?
- E depois a professora pediu para nós estarmos atentas. E eu disse, delicadamente, que se ela não se importasse deixava a Paola acabar e depois podia continuar a contar a história do caracol.
Achei que o Pedro ia sufocar e com isso explodir qualquer coisa nele e resolvi calmamente dizer à Mariana que ....
- Não é a professora que se tem de calar para continuares a conversa com a Paola. É o contrário. Tens os intervalos que podes e deves aproveitar para falar com as colegas. Nas aulas, é para estar atenta a tudo o que a professora diz.
- Mas eu pedi, D-E-L-I-C-A-D-A-M-E-N-T-E.
- Estiveste bem em falar delicadamente, mas não estiveste bem com o que pediste à professora. A professora está todos os dias a trabalhar para que aprendas e sejas uma pessoa melhor e merece todo o respeito e gratidão. Amanhã quando chegares à escola, a primeira coisa que deves fazer é pedir desculpa à professora e a partir de agora, tentares ser melhor e não estares distraída.
A miúda lá se ficou. Não percebi bem se ficou convencida ou não.
O João. Que não entende. Porque é que na escola. Não o deixam jogar o dia todo.
- Uma escola com tantos campos e eu tenho de ir lá para dentro cantar? Eu não quero cantar! Eu quero jogar!
O João.
Virou-se para a Mariana. E num tom desiludido e meio revoltado. Disse:
- Noé! É um triste. Porque é que tinha de pôr dentro do barco um casal de professores?
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