a suplente

 Aqui na nossa rua, mora um casal de espanhóis. 

O pai é colega do Pedro no hospital e a mãe não tem ocupação neste momento. Têm 3 filhos. O mais velho chamam-lhe Maci, é da idade da Alice e colega de turma. Maci é apelido, não faço ideia que raio de nome (verdadeiro) o puto tem e tenho vergonha de perguntar. 

Sei que a professora da Alice os sentou juntos, talvez por serem os dois da Península Ibérica, mas a Alice descartou o Maci num instante. Não é que o puto trocou (numa ficha da escola), blackberry por blueberry e foi a gota de água para a Alice. Uma red flag como se diz agora. Como é possível? Dizia-me a Alice! Não saber distinguir uma amora de um mirtilo. 

Ai Alice! O teu pai também achou, um dia, que o António Silva era jogador do Sporting e nem por isso o descartei! Temos de ser tolerantes com os nossos erros e também com os dos outros.

Pois, Alice foi falar com a professora e explicou que não podia ficar ao lado de alguém que trocava o mirtilo pela amora e vice-versa. A professora compreendeu os argumentos da miúda e sentou-a ao lado de uma russa. Ó diabo!

Chegou a casa transtornada. Como é que posso estar sentada com alguém que está a trazer tanto mal ao mundo e sobretudo à Europa? 

Alice, Alice! A tua colega não fez nada. Não podes julgar assim uma pessoa. Se eu fizer algo aberrante, tu não deves pagar pelo meu erro. A tua colega não deve pagar pelo erro de outra pessoa.

Mas. Alice foi falar com a professora. Já sabe que neste tipo de coisas, miudezas pouco importantes, tem de ser a própria a resolver. A professora perguntou-lhe: queres ficar sozinha? E Alice respondeu: não! Acho que devia ficar com a Margot, porque é melhor que eu em Inglês e pode-me ajudar, mas eu sou melhor que ela a Matemática e posso ajudá-la também. A professora disse, que achava uma boa ideia e estão juntas até hoje. A Margot é a melhor amiga da Alice. 


A filha do meio, dos espanhóis, é a Paola que é mais ou menos da idade da Mariana e está na turma da Mariana. A Paola, ao contrário do Maci é bem tolerada pela Alice e é uma das melhores amigas das miúdas. Passa a vida cá em casa. Ou as miúdas passam a vida em casa dela. 


Já depois de chegarmos cá, nasceu a Clara. Mas a minha cabeça é tão caótica que já não sei bem a idade dela (mesmo ao certo!). Tem menos de dois anos de certeza. Um ano meio? Um pouquito mais, um pouquito menos. Este meu cérebro ainda me vai dar problemas.

Ainda a Clara era recém nascida e logo na primeira vez que a vimos, o João disse em alto e bom som que ia casar com a Clara.

Belisquei a criancinha para se calar, tal era a insistência em querer açambarcar a vizinha recém nascida, com medo que os espanhóis considerassem o meu filho uma espécie de pedófilo infantil.

Mas não.

O raio do miúdo sempre que está com a Clara informa este mundo e o outro que quando for grande vai casar com a Clara. E leva mesmo a sério esta missão. Adora a Clara. Abraça a Clara. Dá beijinhos na Clara. Olha para a Clara embevecido. Ah! E os espanhóis adoraram e ainda adoram!

Já não lhe chamam João. Dizem que é o genro deles. E eu, o Pedro e os meus sogros quando nos queremos referir aos espanhóis dizemos os nossos compadres.

É claro que nós somos um bocado chatos e gostamos de espicaçar as crianças com perguntas! Só para ter a certeza que as coisas que dizem não é um delírio da cabeça deles. 

Por exemplo:

- Sai da frente que tenho de chegar a Mercúrio em menos de 10 segundos. 

Foi uma das frases ouvidas aqui em casa há uns dias atrás, dita por uma das minhas filhas quando estavam a brincar aos planetas. Faz sentido? Não!

Na vida das crianças, da imaginação à realidade vai um pequeno passo. E o João tanto diz coisas que fazem sentido, como no momento a seguir pergunta quando é que vamos ter uma madrasta?


Nós para o João.

- E quando é que vais casar? Com que idade?

- Aos vinte e tal.

Disse com toda a certeza.


E nós prosseguimos.

- E porque não casas antes?

- Porque tenho de estudar e tenho de comprar uma casa.

- E se a Clara não quiser casar contigo? Não és só tu a decidir! A Clara pode não querer....

Isto baralhou um bocado o miúdo. Depois de pensar disse:

- Eu vou tentar.

Não percebemos bem o que é que ia tentar. Ficámos meio apavorados que o puto se tornasse o stalker da Clara. Até porque quando está com a menina não a deixa por um segundo. Há fotos que evidenciam um certo olhar de "deslarga-me" por parte da Clara.

Mais perguntas..

- O que é que vais estudar? O que queres ser quando fores grande?

- Sportinguista!

Pronto. Excelente resposta! Mas...

...embora nos frangalhe os nervos bem mais do que ser controlador aéreo (por exemplo), ser sportinguista não pode ser considerado uma profissão. 

Adiante.

O puto continua a insistir que sim, vai casar com a Clara. É o seu plano A, B e C! Claro! 

Ou melhor! Clara!


Só que.

A escola começou. E o João conheceu a Chen.

Chen é uma menina mais ou menos da idade do João.

Uma menina como o nome indica oriunda da China (já nasceu nos EUA, mas os pais são chineses).

É linda! Muito despachada! Muito querida.

E ontem, quando fui buscar o João à escola diz-me ele:

- Posso convidar a Chen para lanchar?

- Claro que sim!

E a Luísa que estava presente não ficou calada!

- Ai, Ai! Mas tu não vais casar com a Clara? 

- Calma, Luisinha, eu vou casar com a Clara, mas não posso ter uma suplente?



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