Fui às compras!
Ontem. Fui às compras.
Começando a história pelo principio.
Lembram-se do Senhor Ludovino? O meu vizinho de Carcavelos.
Quem tudo o Covid levou incluindo a memória ou quem não é do tempo do Senhor Ludovino pode ir ao meu blog antigo inteirar-se sobre quem é a personagem.
Todos os dias falo com o Senhor Ludovino.
Se por acaso me esqueço de lhe ligar. No dia seguinte pelas 20h30 recebo uma chamada dele. A perguntar porque é que não liguei no dia anterior.
A conversa é sempre meio lamurienta.
- Não saio de casa! Passo os dias à porta do prédio!
- Se está à porta do prédio é porque sai de casa.
- Estar à porta do prédio não é sair de casa! Não passa aqui ninguém é como estar preso.
É verdade. O meu prédio antigo fica numa esquina e não passa muita gente por ali.
Tem bastante comércio nos outros prédios mas ninguém passa à nossa porta.
Nunca mais fui às compras.
Quando percebi que ia ficar muito tempo fechada em casa e ainda por cima com três miúdas pequenas falei com um senhor de um mini-mercado aqui perto e ele vem me trazer as coisas a casa.
Ligo-lhe a dizer o que preciso e ele passa por aqui.
Mas...
....não é a mesma coisa.
A vontade de sair de casa era muita.
Um destes dias comentei com o Senhor Ludovino que tinha saudades da frutaria onde costumava ir a Carcavelos.
- Pois, logo vi que não andas a passar bem...Porque é que não vens?
Contei-lhe que era um bocado complicado com as três miúdas.
- Não te preocupes eu fico com elas! Deixas as miúdas no carrinho aqui comigo! Vais num instante à frutaria...até jogo à apanhada se for preciso...
Se no inicio me parecia meio parva a ideia, com o passar do tempo comecei a achar uma certa piada...
Mais ainda quando percebi que ontem vinham cá fazer o teste ao Pedro.
A ideia de as miúdas assistirem à entrada de estranhos, vestidos de forma estranha aqui em casa, fez-me imediatamente achar que era uma boa ideia pegar nas três e ir às compras.
Nunca mais me tinha vestido para sair.
Vesti um vestido muito antigo mas espectacular que herdei da minha tia Luz.
A lógica é a mesma do mini, mini frigorífico que está no sótão a dar um jeitão.
Quando alguém tem algo que quer deitar fora, fala comigo primeiro.
Cheguei a Carcavelos com as miúdas.
Estacionei em frente ao prédio.
Mal olhei. O senhor Ludovino estava à porta do prédio, na sua cadeira. Com o seu rádio ao colo.
Viu-me saltou da cadeira.
Tirei a Alice de dentro do carro.
Tirei a Mariana.
E quando vou para tirar a Luísa grita..
- Não me digas que ainda há mais..
Tirei a Luísa.
- Eu sabia. Estava a brincar...
Tirei a espreguiçadeira da Luísa. E coloquei a Luísa lá dentro.
Em frente ao prédio há um canteiro e achei que era um bom local para as miúdas ficarem enquanto eu ia às compras.
- O que é que estás a fazer? O que é que estás a fazer, rapariga??
- Deixo aqui as miúdas, elas não saem daqui enquanto vou à frutaria. É fácil o Senhor Ludovino tomar conta delas...
- TOMAR CONTA?? A minha idade não me permite? Nem a idade, nem a ciática! Não pode ser! Onde é que andas com a cabeça para a achar que eu posso tomar conta de TRÊS crianças! São TRÊS crianças, Joana! TRÊS!
- Eu sei que são três! Ao telefone tinha-me dito que ficava com elas enquanto eu ia à frutaria. É já ali!!
Apontei para a porta da frutaria.
- Não vou comprar maçãs a Braga!
Senhor Ludovino suspirou. E lá concordou.
- Espera! Estás doida, Joana! Espera!
E foi em passo acelerado, prédio adentro.
Chegou ainda mais depressa do que tinha ido e estendeu-me umas luvas, daquelas de limpar sanitas e uma máscara.
Casa de ferreiro espeto de pau. Não temos uma única máscara em casa.
Equipei-me.
Disse à Alice para tomar conta das irmãs.
A Mariana já andava a percorrer o canteiro todo. E a Luísa estava na espreguiçadeira a observar o mundo.
Entrei na frutaria.
Tinha um chuchu na mão quando....
- JOOOOOOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAANA!
A voz do Senhor Ludovino!
Larguei o chuchu e larguei a correr.
- Podes ir. Era só para ver se me conseguias ouvir....
Achei que, ter um ataque cardíaco, devia ser tal e qual.
Fiz as compras. Liguei ao Pedro para saber se já tinha feito o teste.
Já tinha.
O caminho estava livre. Podíamos voltar.
Entrei no prédio e lavei as mãos na torneira que normalmente usam para tirar água para lavar o prédio.
Despedi-me do Senhor Ludovino.
Agarrei nas miúdas. Arrumei-as no carro por ordem crescente de idades.
Voltei a casa.
No caminho a Alice confidenciou-me.
- Ó mamã, o senhor Uivino é tão lindo! 💚
Começando a história pelo principio.
Lembram-se do Senhor Ludovino? O meu vizinho de Carcavelos.
Quem tudo o Covid levou incluindo a memória ou quem não é do tempo do Senhor Ludovino pode ir ao meu blog antigo inteirar-se sobre quem é a personagem.
Todos os dias falo com o Senhor Ludovino.
Se por acaso me esqueço de lhe ligar. No dia seguinte pelas 20h30 recebo uma chamada dele. A perguntar porque é que não liguei no dia anterior.
A conversa é sempre meio lamurienta.
- Não saio de casa! Passo os dias à porta do prédio!
- Se está à porta do prédio é porque sai de casa.
- Estar à porta do prédio não é sair de casa! Não passa aqui ninguém é como estar preso.
É verdade. O meu prédio antigo fica numa esquina e não passa muita gente por ali.
Tem bastante comércio nos outros prédios mas ninguém passa à nossa porta.
Nunca mais fui às compras.
Quando percebi que ia ficar muito tempo fechada em casa e ainda por cima com três miúdas pequenas falei com um senhor de um mini-mercado aqui perto e ele vem me trazer as coisas a casa.
Ligo-lhe a dizer o que preciso e ele passa por aqui.
Mas...
....não é a mesma coisa.
A vontade de sair de casa era muita.
Um destes dias comentei com o Senhor Ludovino que tinha saudades da frutaria onde costumava ir a Carcavelos.
- Pois, logo vi que não andas a passar bem...Porque é que não vens?
Contei-lhe que era um bocado complicado com as três miúdas.
- Não te preocupes eu fico com elas! Deixas as miúdas no carrinho aqui comigo! Vais num instante à frutaria...até jogo à apanhada se for preciso...
Se no inicio me parecia meio parva a ideia, com o passar do tempo comecei a achar uma certa piada...
Mais ainda quando percebi que ontem vinham cá fazer o teste ao Pedro.
A ideia de as miúdas assistirem à entrada de estranhos, vestidos de forma estranha aqui em casa, fez-me imediatamente achar que era uma boa ideia pegar nas três e ir às compras.
Nunca mais me tinha vestido para sair.
Vesti um vestido muito antigo mas espectacular que herdei da minha tia Luz.
A lógica é a mesma do mini, mini frigorífico que está no sótão a dar um jeitão.
Quando alguém tem algo que quer deitar fora, fala comigo primeiro.
Cheguei a Carcavelos com as miúdas.
Estacionei em frente ao prédio.
Mal olhei. O senhor Ludovino estava à porta do prédio, na sua cadeira. Com o seu rádio ao colo.
Viu-me saltou da cadeira.
Tirei a Alice de dentro do carro.
Tirei a Mariana.
E quando vou para tirar a Luísa grita..
- Não me digas que ainda há mais..
Tirei a Luísa.
- Eu sabia. Estava a brincar...
Tirei a espreguiçadeira da Luísa. E coloquei a Luísa lá dentro.
Em frente ao prédio há um canteiro e achei que era um bom local para as miúdas ficarem enquanto eu ia às compras.
- O que é que estás a fazer? O que é que estás a fazer, rapariga??
- Deixo aqui as miúdas, elas não saem daqui enquanto vou à frutaria. É fácil o Senhor Ludovino tomar conta delas...
- TOMAR CONTA?? A minha idade não me permite? Nem a idade, nem a ciática! Não pode ser! Onde é que andas com a cabeça para a achar que eu posso tomar conta de TRÊS crianças! São TRÊS crianças, Joana! TRÊS!
- Eu sei que são três! Ao telefone tinha-me dito que ficava com elas enquanto eu ia à frutaria. É já ali!!
Apontei para a porta da frutaria.
- Não vou comprar maçãs a Braga!
Senhor Ludovino suspirou. E lá concordou.
- Espera! Estás doida, Joana! Espera!
E foi em passo acelerado, prédio adentro.
Chegou ainda mais depressa do que tinha ido e estendeu-me umas luvas, daquelas de limpar sanitas e uma máscara.
Casa de ferreiro espeto de pau. Não temos uma única máscara em casa.
Equipei-me.
Disse à Alice para tomar conta das irmãs.
A Mariana já andava a percorrer o canteiro todo. E a Luísa estava na espreguiçadeira a observar o mundo.
Entrei na frutaria.
Tinha um chuchu na mão quando....
- JOOOOOOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAANA!
A voz do Senhor Ludovino!
Larguei o chuchu e larguei a correr.
- Podes ir. Era só para ver se me conseguias ouvir....
Achei que, ter um ataque cardíaco, devia ser tal e qual.
Fiz as compras. Liguei ao Pedro para saber se já tinha feito o teste.
Já tinha.
O caminho estava livre. Podíamos voltar.
Entrei no prédio e lavei as mãos na torneira que normalmente usam para tirar água para lavar o prédio.
Despedi-me do Senhor Ludovino.
Agarrei nas miúdas. Arrumei-as no carro por ordem crescente de idades.
Voltei a casa.
No caminho a Alice confidenciou-me.
- Ó mamã, o senhor Uivino é tão lindo! 💚
Já tinha saudades do Sr. Ludovino. Até a Alice gostou dele. É um querido, ainda te arranjou umas livas e uma máscara. Fantástica a história. Beijinhos
ResponderEliminarTão bom 💚
ResponderEliminarTinha saudades das tuas peripécias com o Sr Ludovino... que continua a ser ele próprio 🤗
(digo sempre vou perguntar à Joana pelo Sr Ludovino e esqueço-me 🙄)
Fiquei de lágrima no canto do olho 💚
🌈
Ah o Sr. Ludovino!!!! As saudades que já tinha das suas histórias.
ResponderEliminarBom vizinho e anda por cima bonito. Tão sensível a sua Alice ...
Beijinhos e continuação das melhoras do Pedro.
ResponderEliminarImaginando a situação, conhecendo o caráter dele, ri muito. Fiquem bem.
As saudades que eu tinha do Sr. Ludovino, ele devia de ter um blog exclusivo só para contares as historias dele :P Ia ser um sucesso :D
ResponderEliminarAcho que também devias ter levado o Vasco *.*