o dia em que o tempo parou

Senti. Pela primeira vez. Quando fui buscar a Alice.
Na altura, achei que era por ter passado por um período muito duro. Antes da Alice.
Agora acho que não.
Quando trouxe a Alice comigo senti uma felicidade tão incrível. Um calor no coração. O sentimento que podia tudo. Tinha força. Tinha muita força.

Lembro-me de a agarrar. Falar baixinho. Suster as lágrimas para não a assustar.
Lágrimas de alegria.
Posso viver mil anos. Nunca me vou esquecer de sentir o que senti naquele dia.
O tempo parou. 
Parou. Porque eu quis. Era só eu e a Alice. 
Sentia-me numa outra dimensão. Em transe.

Os ponteiros do relógio voltaram a girar. Os segundos a passar. Os minutos e as horas.
Porque a vida seguiu o seu rumo. E a vida consome tempo.


Voltei a sentir o relógio parar. Num dia solarengo em Abril de 2018.
Na Adraga. Debaixo do arco rochoso. Com a água a molhar-me os pés.
Depois do Pedro me pedir em casamento.
O tempo parou. 
Senti que sim. Que tudo estava certo. 
Só nós. Porque o tempo tinha parado. E por isso nada mais existia.


Na segunda feira passada o Pedro fez novamente o teste. Na terça de manhã recebeu a notícia.
Negativo.
A meio da manhã de terça feira fez novo teste.
Só com dois negativos podia voltar ao hospital.
Depois das sestas da tarde. 
A Alice montou com a minha ajuda a sua casa de princesa.
Com a ajuda de uns lençóis. Fazemos uma tenda linda e maravilhosa na sala.
A Mariana também brinca. Também gosta.
E já no final do dia a Alice pediu-me para dormir na sala. Tal e qual como fazíamos antes do Pedro estar doente.
Disse-lhe que sim.
- Hoje dormimos aqui mas amanhã tens de dormir no teu quarto.

A miúda disse que sim (é óbvio que não é por dizer que sim que no dia seguinte não infernize a vida de uma pessoa e já não se lembre do que prometeu....)
Deixei porque pensei que no dia seguinte o Pedro podia finalmente sair do sótão e terça poderia ser o último dia que dormiria sem o Pedro e por isso podia fazer a vontade à Alice.

Dei banho a este bando que mora em minha casa.
Ouvi a Alice (já de banho tomado) a correr e a gritar pelo pai.
O Pedro tinha recebido o resultado do teste. Mais cedo do que esperávamos. Negativo.

Lembrei-me do que tinha prometido à Alice e falei com o Pedro.
Custava-me ter dito que sim e depois voltar com a palavra atrás e dizer que não.
- Porque não te juntas a nós?
O Pedro disse que sim.
E foi assim que o Pedro passou a primeira noite pós covid.
Num acampamento na sala. A dormir comigo, Alice, Mariana na cama que trouxe do quarto, Luísa na alcofa. Vasco e Gabi. Não sei onde estava a gata.

Não dormi.
O tempo parou.
Passei a noite a ouvir a respiração das miúdas e dos miúdos.
Chorei baixinho. 
De felicidade. 
Por ter a sorte. De ter conseguido parar o tempo.





Comentários

  1. Fico feliz por saber que o Pedro está bem e que vocês puderam ter um momento familiar tão bonito. No entanto o tempo não pára e certamente o Pedro voltou ao hospital e isso não deve ser fácil de gerir. Desejo tudo de bom para todos vocês. Beijinhos

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  2. Tão bom!!!! Tudo a correr bem!!! Beijinhos

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  3. Tão bom o tempo ter-te dado esse momento tão especial 💚👩👨👧👶👶🐶🐶🐱💚
    Fico muito feliz por vocês 🤗

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  4. Boa. Uma boa notícia. Beijinhos para vós

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  5. Que maravilhoso, emoção incrível. Fico feliz por saber que o Pedro está bem. Beijinhos para a família ;)

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  6. Bom dia Joana,
    Que bom a familia toda junta...
    Vês sempre existe Deus.
    Este Deus so tem um defeito: nao é do Sporting!
    Que continuem todos bem... Desde o dia 1 de Março quenao pego na minha neta.
    Felicidades para vos todos.
    De coração!

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  7. Respondo mais logo. Agora.... não consigo ver as letras. Estão tremidas e húmidas. Ainda vou conseguir enviar mais uma palavra: Parabéns!!!!

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