medidor do amor....

O meu avô tinha negócios em Lisboa.
Às vezes a minha avó acompanhava-o mas não gostava nada de Lisboa.
Quem lhe tirava o Alentejo tirava-lhe o coração.
Preferia ficar. O meu avô ia a Lisboa e ficava uns dias. A minha avó preferia ficar.

Uns dias antes do meu avô ir dava-lhe para as mãos um punhado de sementes.
- Vá! Atira-as para a terra.
Daí a uns dias germinavam e nasciam. 
O meu avô já não estava no Alentejo mas a minha avó sentia a presença dele sempre que olhava para as sementes nascidas. 
A minha avó dizia que sentia que ele estava bem porque as plantinhas assim lhe mostravam.


Aprendi a amar com a minha avó. 
Cresci a ver este amor entre os meus avós. E marcou-me para a vida.
Toda a minha vida andei à procura de um amor assim. 
Um amor maior. 
O maior amor.
Encontrei-o. 
Está presente não só nas pessoas. Nas minhas pessoas. 
Como em todos os recantos da minha casa.
Está comigo todos os dias.
Passeia-se pela cozinha quando faço as refeições de todos.
Corre quando vou correr ao paredão.
Está mesmo, mesmo ali ao pé de mim quando faço jardinagem. 
Quando pego nos pincéis e pinto.
Quando dou banho às miúdas. 
Quando tiro a fralda mais mal cheirosa do mundo.


O Pedro ofereceu à Alice um medidor de tensão velho e avariado que trouxe do hospital.

- Quero ser baiarina e sô doutor quando a Aice for gaaande.
Ainda bem que não quer ir para letras...o Português não é o forte dela...


Mal nos vê sentados, lá vem ela com o medidor de tensão arterial.

- O que é que me vais fazer?
- Vou medir o amor do teu coaaaação..

Dou-lhe o meu braço. 
A miúda faz as medições. E diz...
- Tens muito amor menina wana.....diz aqui...
Aponta para o monitor do medidor...
- Tens mesmo muito amor....
- Grande ou pequeno?
- Gaaaande.
Abre os braços para mostrar que é grande. É enorme.
Desata a correr e aparece com uma flor de madeira que tem no quarto.

E eu lembrei-me das sementes da minha avó.
Passadas para as mãos do meu avô.
Semeadas. Germinadas. Nascidas.
Amor. 
Com raízes. É sempre o melhor amor.













Comentários

  1. tão deliciosa este episódio que contas da Alice. Ternurento. o episódio bonito e o teu talento em contar de forma bonita, bonitas histórias tem tanto encanto.

    beijinho e muito amor nessa casa para medir e espalhar pelos quatro cantos da casa e fora dela.

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  2. Esse amor é tão bom. É o melhor amor do mundo.
    Beijinhos à Alice

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  3. Hoje precisava de uma história com final feliz.
    As tuas palavras fazem bem.
    Obrigada
    Dida (florbyts)

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  4. Pelos vistos, deixei passar demasiados dias sem vir espreitar o blogue.... Se tivesse lido este post no dia 17, teria dito "Parabéns!" sem serem atrasados... PARABÉNS, Joana! Continuem a medir o amor dessa maneira tão linda e certa, e, sempre que puderes, vem contar-nos uma história (ternurenta, séria ou divertida, gosto de todas). <3

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  5. Este comentário não precisa mesmo de ver a luz do dia. É só para sugerir que, quando tiveres um tempinho, mudes o cabeçalho que diz que a Luísa deve chegar este mês... ;-)

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    1. tens muita razão, tenho de arranjar um tempo para fazer isso...hoje não consigo...pode ser que amanhã.....beijinhos

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