pó de estrela

Foi a minha avó que me ensinou a amar. As pessoas. Os animais. A vida. As estrelas.

Eu era uma miúda franzina, birrenta e barulhenta que derretia nos braços da minha avó. Os abraços eram mais doces do que o mel. A minha avó cheirava a bolo de bolacha, a canela, a chocolate e a leite com Tofina. E eu derretia naquele calor e amor imensos. 

Sonho muitas vezes com a minha avó. Nos sonhos ainda sou franzina. Birrenta. Barulhenta.

A minha avó ensina-me. A vida. As pessoas. Os animais. As estrelas.

A minha avó é pó de estrela, passaram-se quarenta anos e eu continuo a derreter. 

Ninguém sabe.

Mas.

A Alice cheira a bolo de bolacha, os abraços da Mariana são mais doces do que o mel, a gargalhada da Luísa é mais estimulante do que a canela, o João suja-me sempre a melhor roupa com as mãos sujas de chocolate, o Pedro é o aconchego do leite com Tofina. O Vasco e a Gabi têm o cheiro do bolo acabado de roubar. 

Derreto-me com tudo. 

Derreto-me com eles. Com a vida. Com as estrelas.

Pó de estrela. 

Hoje é Natal.

Hoje sonhei com a minha avó.

Mas eu não era franzina. Birrenta. Barulhenta. Era mãe. 

E a minha avó estava com todos a ensinar-nos a amar. A vida. As pessoas. Os animais. E as estrelas.

Hoje é Natal.

E tenho a minha família toda em casa. 

Os habituais, os de casa.

E os meus pais. Os meus sogros. Os meus irmãos. Os meus cunhados. Os meus sobrinhos.

E não é milagre. 

Cheira a bolo de bolacha. A canela. A chocolate. Os abraços são mais doces do que mel. E o aconchego é melhor do que leite com Tofina.

Não é milagre, não é. 

É pó de estrela.

Queridos amigos. Sei que não tenho sido assídua por aqui. 

Mas a vida acontece e o tempo é curto.

Não queria deixar de vos desejar um feliz Natal.

Neste Natal derretam-se. 

Com as vossas pessoas. Animais. Com a vida. 

E que 2024 tenha cheiro a bolo de bolacha, seja mais doce do que mel, polvilhado com canela, chocolate e pó de estrela.