a paragem cerebral

 A Luísa tem a mania de convidar tudo o que respira para ir a nossa casa.

Não sei se só para uma visita. Se para ficar a viver connosco para sempre.

Um dia destes, estávamos todos num parque infantil e ouvi a Luísa a dizer a uma pequena da idade dela:

- Queres vir? Podemos jogar à bola....

É assim, o modus operandi da miúda. Simples. 

Outro dia, no pediatra, um pequeno, mais ou menos da idade da Luísa, disse à mãe que tinha fome.

A mãe disse-lhe para esperar um pouco que já iam para casa.

Eu que me tornei na minha mãe, tenho sempre comida. E ofereci ao pequenito uma banana.

E a Luísa?

Sorrateiramente.

- Queres vir para minha casa? A minha mãe é melhor que a tua....

Penso que a senhora não ouviu tamanha alarvidade, porque os dois estavam mais descaídos para o meu lado, mas o miúdo ficou com cara de quem ia ponderar o assunto....

No fim de semana, fomos ao Alentejo.

Temos ido quase todos os fins de semana.

No sábado à tarde fomos dar uma volta. Parámos num café.

As miúdas logo se enturmaram com uns pequenos que lá estavam.

No meio de tanta criançada. E quando vamos para sair do café: 

uma, duas, três. Quatro com o João no carrinho.

Não!

Contei mal!

uma, duas, três e quatro. Cinco com o João no carrinho.

Contei outra vez. E vejo um pequeno lourito, que não faz parte da minha prole.

Momento de paragens cerebral....em 3, 2, 1...

Da minha boca, para o ouvido do Pedro:

- Olha lá, este não é nosso, pois não?

Responde a Luísa.

- Convidei-o. Algum problema?